Misteriosa elipse

Giovana Valadares
1 min readSep 18, 2022

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Nos últimos vinte dias, se tornou tão previsível que deveria pedir ajuda ao bibliotecário para que a partir de agora algo lhe arrebentasse de uma vez.

“Senhor, eu li mais um livro da Carla Madeira, mas parece que nada mudou.”

Na obra dos anos 70 que trouxe consigo para os finais de festa que são suas manhãs reprimidas, notou que parou de alimentar a deformação subjetiva daquilo que chamam de romance simbólico. “A arte não saberia procurar no objetivo senão um simples ponto de partida extremamente sucinto”*, viu na folha amarelada.

Tiraste o doce da mão da criança e saiu correndo, esse foi o ponto de partida e dali em diante não tinha mais nada a dizer. Regresso à própria fronteira inabitada, pois não sentia o seu gosto há semanas.

É uma casa com ecos, não dá pra abrir espaço pra uma renovação estética nem interdição com mobílias. Apenas conselhos gerais, risadas tão selvagens quanto quebradiças e mais nenhum sonho nítido.

A falta de um gesto inconsequente lhe apontava os dedos, porém, se até o universo inchou e fugiu de si pra nascer**, não conseguia formar uma frase sequer que poderia sair da página e chegar aos ouvidos sem expandir drasticamente de tamanho.

Ofegante, como se fosse dar só mais um respiro, o “não vai embora” ficou muito maior do que ela. Projetou a distância, levantou as pernas e deixou tudo que tinha.

*Vanguarda europeia e modernismo brasileiro, de Gilberto Mendonça Telles.

**Teoria da inflação cósmica, de Alan Guth.

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