Nenhuma ficha

Giovana Valadares
1 min readSep 12, 2022

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Sobre por que escrever, todos os palpites me voltam para um só. Mas gosto de acreditar que ao lado desse movimento, existem muitos outros.

Para entender que o intervalo é o que mais dói. Viver num eterno cair de fichas uma atrás da outra ao passo que nenhuma ficha se vai mesmo. E enquanto a ideia da eternidade for a mais pontiaguda, usar a palavra como arma e proteção.

Pela memória interrompida após a perda prematura, em que os trejeitos começavam a se compor em definitivo, já que “nós olhamos para o mundo uma vez, na infância. E o resto é memória”, diz a escritora Louise Glück.

Com parte da ausência se prolongando até me esvair por completo, escrevo. Para fugir do pensamento de Platão de que a escrita é como um veneno para a memorização, escrevo.

Transitar pelos arredores da linguagem e colocar a lembrança e as palavras para respirar: aquela sensação deliciosa que a gente tem dentro de um veículo durante uma subida ou descida brusca.

Sair do olho do furacão e me enfiar dentro do castelo de areia que é a memória. Sempre ela. A única maneira que eu descobri para fincar minha bandeira e permanecer.

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