Giovana Valadares
1 min readJul 19, 2022

Não me convenço de muito

No museu ouvi que premeditar é enganar a si mesmo, mas essa função não me cabe e eu não caibo nela. Embora essa corda bamba tenha virado semente sem precedentes à vista.

É que na segunda-feira eu acreditei no arrepio do domingo: poderia jurar que a invenção do segundo se deu naquele quase encaixe do beijo antes das línguas se entenderem.

O que ficou foi o cheiro de gasolina e de caju misturados na volta pra casa. Com o vidro quebrado e as expressões sintáticas que reverteram todo o quadro. Uma liberdade poética me justificaria ali, eu apenas não dei o braço a torcer. Não garanto um substantivo nessas lágrimas horizontais, quem dirá verbo. Esse papo de amor só na literatura, me dispus a escrever.

O duro é que minha vida nada mais é que literatura.

Tudo sob meia luz e uma linguagem corporal de surpresa. Se desse eu emolduraria umas reações que vem até mim, porém, pintura não é minha especialidade.

Bakhtin diz que as atividades humanas “não são nem totalmente determinadas nem aleatórias” e eu gosto de conversas que não pretendem tudo que é possível não pretender. Em detrimento da falta, ferramenta pro laço.

Naquele dia, não trouxe nenhuma pergunta gananciosa. Só pude errar o perfume. E a dose. Sou uma pessoa do tempo, no entanto, não é o meu tempo que dita. Eu sozinha até tento, mas nessa bifurcação não me convenço de muito.