Quantas vezes dá pra voltar?

Giovana Valadares
1 min readAug 5, 2023

--

sábado de manhã. “lufada de ar” surgiu na cabeça, pleonasmo, é porque na verdade eu quis dizer lufada de vida. desconfio: deve ser o período fértil. as consequências do descanso, por mais que eu não tenha a dimensão do quanto ou como descansei. que eu sinta o limiar da empolgação antes de voltar a pensar que é tudo muito. muito de mim, muita insistência, de quem retorna pra si própria a cada madrugada mas sem tocar com arrepios o dia que passou. o meu trabalho, os meus estudos, tudo em volta da palavra e nos últimos meses é como se eu não tivesse condições de me envolver com quase nenhuma delas. elas vêm, não é possível que eu exista sem elas. talvez eu só não quisesse que me vissem enquanto não soubesse onde estavam os seus acenos.

aqui escrevo, com bastante dificuldade. me vejo abrindo uma pequena fresta, e parece que começos de agosto me cutucam pra isso. na última segunda-feira eu fiquei tão feliz, nessas horas preciso ainda mais das palavras mas é nesse momento em que elas mais se olham entre si, a sós. a graça está aí, ao lado da fissura. é continuar amando mesmo que nem eu veja. choro nessa última frase. quando eu digo que me emociono com as palavras, não é de brincadeira. é sim uma das maiores emoções que posso dar conta. e hoje, entendo que dou conta de muita emoção. embora eu possa demorar um tempo pra avistar, em pleno mar aberto que é o ato de decidir que sim, insisto.

--

--